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Objetivo: Analisar como se dá a construção de identidade de estudantes transgêneros egressos
de Escolas Estaduais pertencentes à Superintendência Regional de Ensino de
Divinópolis/Minas Gerais.
Teoria: Este estudo se baseou na Teoria da Identidade Social, considerada como o conjunto
que abrange o autoconceito do indivíduo, sua pertença a um grupo e a valoração atribuída a tal
sentimento.
Método: Definiu-se por uma pesquisa exploratória e de abordagem qualitativa. Os sujeitos de
pesquisa foram 12 indivíduos maiores de 18 anos, egressos de Escolas Estaduais pertencentes
à Superintendência Regional de Ensino de Divinópolis/Minas Gerais. A coleta de dados foi
construída a partir da História Oral Testemunhal e utilizou roteiro de entrevista semiestruturado.
Os dados foram submetidos à Análise Crítica do Discurso.
Resultados: O estudo revelou que a universalização do ensino, direito constitucionalmente
adquirido, não garante por si só a permanência de estudantes nas organizações escolares, e
sobretudo, não é segurança do estabelecimento de justiça social. O contexto escolar dos
entrevistados, em sua maioria, desconsiderou as identidades dos sujeitos dissidentes nele
inserido e que, essa invisibilização se estendeu à medida que a trajetória escolar destes se
expandiu, inserindo-os em uma situação de vulnerabilidade social, marcada pela fragilidade das
relações estabelecidas. Suas memórias apresentaram uma organização escolar que silenciava e
provocava situações de violência e discriminação, constituindo-se cenário privilegiado para
sujeitos cis, “normais”, neutros, heterossexuais e que, em contrapartida, produzia (não) lugares
que marginalizavam seus corpos trans. Evidenciou-se que a exclusão e o não reconhecimento
de suas identidades não eram acontecimentos isolados, mas representavam constituintes de uma
estrutura social que realizava a manutenção da cisheteronormatividade e perpetuava injustiças.
Evidenciou-se que as identidades destes sujeitos trans não se vincularam a uma categoria
estática, unificada ou coerente, mas, sendo frágeis e maleáveis, foram elaboradas de forma
dinâmica e transitaram por diferentes processos de construção e negociação a fim de lidarem
com suas crises identitárias, muitas vezes produzidas pela não validação dos agentes sociais das
organizações escolares.
Contribuições teórico-metodológicas: Ao levantar as violências simbólicas acometidas aos
sujeitos transgêneros nas organizações escolares, este estudo contribuiu para a compreensão
das dinâmicas e dos contextos em que os discursos hegemônicos sobre gênero e sexualidade
são internalizados ou provocam resistências nos sujeitos. A pesquisa confirmou que as
instituições escolares agem como dispositivos de poder e que seus discursos hegemônicos
atuam de forma a marginalizar ou validar determinadas identidades de gênero e sexualidade.
Contribuições pragmáticas e organizacionais: Esta pesquisa demonstrou que o
conhecimento e aplicação de políticas de inclusão, como a inserção do nome social em
documentos administrativos escolares, ainda não é o bastante para ressignificar as práticas
escolares que ainda perpetuam discriminação e estigmatização dos sujeitos devido a suas
identidades de gênero. Logo, as organizações escolares devem ir além do cumprimento de
políticas normativas e abordar a sensibilização para as questões de gênero e diversidade sexual
de forma crítica e contínua, tendo este tema como prioridade institucional e pauta de suas
agendas.
Contribuições sociais: As implicações sociais deste estudo abarcam aspectos relacionados à
necessidade de promoção de bem-estar e inclusão dos sujeitos transgêneros nas organizações
escolares, promovendo a conscientização sobre a necessidade de repensar as estruturas de poder
presentes nesse espaço, propondo que este seja um lugar de justiça social e reconhecimento. |
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